198.

As Três Irmãs do Poeta

"É noite! as sombras correm nebulosas.
Vão três pálidas virgens silenciosas
Através da procela irrequieta.
Vão três pálidas virgens... vão sombrias
Rindo colar num beijo as bocas frias...
Na fronte cismadora do - Poeta -

Saúde, irmão! Eu sou a Indiferença.
Sou eu quem te sepulta a idéia imensa,
Quem no teu nome a escuridão projeta...
Fui eu que te vesti no meu sudário...
Que vais fazer tão triste e solitário?...

- Eu lutarei! - responde-lhe o Poeta.

Saúde, meu irmão! Eu sou a Fome.
Sou quem o teu negro pão consome...
O teu mísero pão, mísero atleta!
Hoje, amanhã, depois... depois (qu'importa?)
Virei sempre sentar-me à tua porta...

- Eu sofrerei - responde-lhe o Poeta.

Saúde, meu irmão! Eu sou a Morte.
Suspende em meio ao hino augusto e forte.
Marquei-te a fronte, mísero profeta.
Volve ao nada! Não sentes neste enleio
Teu cântico gelar-se no meu seio?!

- Eu cantarei no céu! - diz-lhe o Poeta."
Castro Alves, Poesias Completas de Castro Alves
p.31-32

Um comentário:

  1. De emocionar.
    Obrigado por tão incrível postagem.
    Vivo tanto disso que nem sei o que dizer.
    Triste e ao mesmo tempo uma identificação que só pode causar bem-estar.

    Nossa.

    [...]

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