387.

"Fui à minha reunião; não escandalizei ninguém. Ninguém percebeu os esforços sobre-humanos que me foram necessários para ser igual aos outros. Mas não esquecerei jamais as torturas de uma embriaguez ultrapoética, molestada pelo decoro e contrariada por um dever!"
Charles Baudelaire, Paraísos Artificiais
p.31

386.

"Todos os jovens macacos são curiosos, mas a curiosidade diminui à medida que se tornam adultos. No nosso caso, a curiosidade infantil reforça-se cada vez mais enquanto crescemos. Nunca paramos de investigar. Nunca nos satisfazemos com o que sabemos. Mal encontramos resposta para uma pergunta, formulamos logo outra. É esse o maior truque da nossa espécie para continuar a sobreviver."
Desmond Morris, O Macaco Nu
p.137

385.

"Um velho, quando está dançando,
Só tem de velhos os cabelos,
Pois que, na mente, um jovem é."
Anacreonte, ANAKPEONTOS WDDI [Odes de Anacreonte], fragmento do poema 'O Velho que Dança', traduzido por Almeida Cousin
p.129

384.

"Como se não bastasse o pouco dinheiro, a lâmpada fraca,
O perfume ordinário, o amor escasso, as goteiras no inverno.
E as formigas brotando aos milhões negras como golfadas de
dentro da parede (como se aquilo fosse a essência da casa)
  

E todos buscavam
 

                             num sorriso num gesto 
                             nas conversas da esquina 
                             no coito em pé na calçada escura do Quartel 
                             no adultério 
                             no roubo 
                             a decifração do enigma"

Ferreira Gullar, fragmento do Poema Sujo 

383.

"O tempo da produção, o tempo-mercadoria, é uma acumulação infinita de intervalos equivalentes."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 147
p.103

382.

"Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha...A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não: a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quantura, um querer bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
'Liberta que serás também'
E repito!"
Vinicius de Moraes,  fragmento do poema 'Pátria minha'

381.

"Já não existe qualquer diferença entre materealismo, idealismo. Todos os ismos são iguais."
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.111

380.

"Nos nossos dias, existem numerosos exemplos de culturas exageradamente rígidas ou exageradamente insensatas. As pequenas sociedades atrasadas, completamente dominadas por pesadíssimos tabus e costumes antigos, são exemplos das primeiras. Essas mesmas sociedades tornam-se rapidamente exemplos do segundo tipo, quando são convertidas e "ajudadas" pelas civilizações avançadas. O impacto súbito de novidade social e de excitação exploratória submerge as forças estabilizadoras da imitação ancestral e desequilibra a balança para o lado oposto. Daí resulta confusão e desintegração cultural. Feliz seria a sociedade que adquirisse gradativamente um equilíbrio perfeito entre a imitação e a curiosidade, entre a escravatura da aceitação cega da imitação e a experimentação progressiva e racional."

Desmond Morris, O Macaco Nu

p.134

379.

"Com a barriga vazia | Não consigo dormir | E com o bucho mais cheio comecei a pensar | Que eu me organizando posso desorganizar | Que eu desorganizando posso me organizar"
Chico Science, 'Da Lama ao Caos'


378.

"a classe que organiza esse trabalho social e se apropria da limitada mais-valia desse trabalho, apropria-se também da mais-valia temporal de sua organização do tempo social: ela possui só para si o tempo irreversível do ser vivo."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 128
p.89

377.

"Ofertam as três ao homem os dons amáveis
Que ornam o corpo e ornamentam a inteligência:
Aspecto sedutor, bela aparência,
Voz de louvor e gestos de amizade.
Em suma, tudo aquilo que, entre os homens,
Se costuma chamar Civilidade."
Edmund Spenser, citado em O Livro de Ouro da Mitologia, de Thomas Bulfinch
p.15

376.

"...como, num país subdesenvolvido, explicar o aparecimento de uma vanguarda e justificá-la não como uma alienação sintomática, mas como uma fator decisivo no progresso coletivo?"
Hélio Oiticica, citado no livro 'Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira'
p.11

375.

"Não sei de que tecido é feita minha carne e essa vertigem
que me arrasta por avenidas e vaginas entre cheiros de gás 
e mijo a me consumir como um facho-corpo sem chama, 
                       ou dentro de um ônibus 
                       ou no bojo de um Boeing 707 acima do Atlântico
acima do arco-íris 
                       perfeitamente fora
                      do rigor cronológico 
                      sonhando 
Garfos enferrujados facas cegas cadeiras furadas mesas gastas
balcões de quitanda pedras da Rua da Alegria beirais de casas
cobertos de limo muros de musgos palavras ditas à mesa do
jantar, 
                        voais comigo 
                        sobre continentes e mares 

E também rastejais comigo 
                       pelos túneis das noites clandestinas
                             sob o céu constelado do país 
                             entre fulgor e lepra
debaixo de lençóis de lama e de terror 
                             vos esgueirais comigo, mesas velhas, 
armários obsoletos gavetas perfumadas de passado, 
                             dobrais comigo as esquinas do susto 
                             e esperais esperais
que o dia venha
 

                             E depois de tanto 
                            que importa um nome?
Te cubro de flor, menina, e te dou todos os nomes do mundo: 
                            te chamo aurora 
                            te chamo água
te descubro nas pedras coloridas nas artistas de cinema 
                           nas aparições do sonho" 

Ferreira Gullar, fragmento do Poema Sujo

374.

"Grande parte de nossa atividade adulta baseia-se no que aprendemos por imitação durante a infância. Imaginamos muitas vezes que nos comportamos de uma certa maneira porque ela corresponde a determinado código sublime de príncipios abstratos e morais, quando, na verdade, nos limitamos a obedecer um conjunto de impressões puramente imitativas, profundamente arraigadas e aparentemente esquecidas. É essa imutável obediência a tais impressões (a par dos nossos instintos cuidadosamente dissimulados) que torna tão difícil que as sociedades mudem os respectivos costumes e crenças."
Desmond Morris, O Macaco Nu
p.133

373.

"Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas."
Vinicius de Moraes, estrofe do poema 'Pátria minha'

372.

"A organização revolucionária só pode ser a crítica unitária da sociedade, isto é, uma crítica que não pactua com nenhuma forma de poder sagrado, em nenhum ponto do mundo, e uma crítica formulada globalmente contra todos os aspectos da vida social alienada... a organização revolucionária não pode reproduzir em si as condições de cisão e de hierarquia que são as da sociedade dominante."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 121
p.85

371.

"Não podem, por acaso, os tiranos
Senão pelos tiranos ser vencidos,
Não pode mais, acaso, a Liberdade
Achar na Terra um campeão, um filho,
Como Colúmbia, ao irromper, um dia,
Armada e imaculada como Palas?"
Lord Byron, citado em O Livro de Ouro da Mitologia, de Thomas Bulfinch
p.14

370.

"E tá realmente acontecendo uma coisa fantástica, que é essa certeza e conscientização de que você deve ser um rato pra entrar no buraco do rato, vestir gravata e paletó para ser amigo do rato. E depois as coisas acontecem. Não ficar de fora fazendo bobagem, de calça Levis com tachinha. Esse tipo de protesto eu acho a coisa mais imbecil do mundo, já não se usa mais. Eles tão pensando como John Lennon disse, "they think they're so classless and free". Mas não são coisa nenhuma, rapaz, tá todo mundo comendo alpiste, tá todo mundo dentro de uma engrenagem sem controle."
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.96


369.

"Em todo comportamento exploratório, tanto artístico quanto científico, existe uma batalha permanente entre os instintos neofílicos e neofóbicos. Os primeiros conduzem-nos a novas experiências, fazem-nos suspirar por novidades. Os últimos fazem-nos recuar, refugiarmo-nos no que é conhecido. Mantemo-nos em perante conflito perante os atrativos dos novos estímulos excitantes e os dos estímulos acolhedores já conhecidos. Se perdermos nossa neofilia, acabamos por estagnar. Se perdermos nossa neofobia, acabamos por nos atirarmos de cabeça para o desastre... Passo a passo alargamos o nosso conhecimento e compreendemos melhor a nós próprios e ao mundo complexo em que vivemos."
Desmond Morris, O Macaco Nu
p.147

368.


"Eu me lembro quando eu fui pra lá, eu levei quinze arquitetos, mas levei um médico, levei um engenheiro, levei dois jornalistas, levei cinco amigos meus que tavam na merda e precisavam trabalhar e que eu senti que era a oportunidade de ajudá-los. Eu queria é que a conversa em Brasília fosse mais variada e não falasse só de arquitetura. Então que a vida ficasse mais fácil, mais divertida. A gente se divertia, a gente saia em grupo, a gente não levava a coisa a sério, a gente tinha coisa pra contar, a turma era alegre, divertida. Porque eu acho que a vida é assim, a gente tem que separar as coisas, a vida é chorar e rir a vida inteira. Aproveitar os momentos de tranquilidade e brincar um pouco, depois os outros é aguentar. A vida é um sopro, né?
Oscar Niemeyer, do filme A Vida é um Sopro      

367.

"Quanto a você, Maximiliano, tenha plena certeza de que só os que padecem um extremo infortúnio estão aptos a usufruir uma extrema felicidade. É preciso ter querido morrer para saber o que vale a vida.
Tôda a sabedoria humana se resume nestas duas palavras: confiar e esperar!"
Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo
p.285-286

366.

"Schopenhauer formulou cedo uma teoria sobre o tédio. De acordo com o seu pessimismo metafísico, ele ensinava que, ou as pessoas sofrem pelo apetite insatisfeito de sua cega vontade, ou se entendiam tão pronto aquele esteja satisfeito."
Theodor Adorno, A Indústria Cultural e Sociedade
p.109

365.

"O proletariado dos países industriais... não foi suprimido. Permaneceu irredutivelmente existente na alienação intensificada do capitalismo moderno: ele é a imensa maioria de trabalhadores que perderam todo poder sobre o uso de sua própria vida, e que, assim que tomam conhecimento disso, se redefinem como proletariado, o negativo em ação nessa sociedade."

Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 114

p.81

364.

"Não ligo para o que os críticos falam de mim, seja bem ou mal. Eu sou o meu crítico mais exigente...sou vaidoso demais para tocar qualquer coisa que não considere boa."
Miles Davis, 1962
p.42

363.

"Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida.."
Caetano Veloso, música Eclipse Oculto

362.

"Na investigação 'pura', o cientista utiliza sua imaginação praticamente da mesma maneira que o artista... Tal como o artista, o cientista dedica-se à investigação pela investigação. Tanto melhor se os resultados do estudo acabam por se mostrar úteis no contexto de algum objeto específico da sobrevivência, mas isso é secundário."
Desmond Morris, O Macaco Nu
p.146-147

361.

"O cinema de Hollywood visa não apenas ao público americano, mas ao público mundial, e há mais de 10 anos as agências especializadas eliminam os temas suscetíveis de chocarem platéias européias, asiáticas ou africanas. Ao mesmo tempo se desenvolve um nôvo cinema estruturamente cosmopolita, o cinema de coprodução, reunindo não apenas capitais, mas vedetes, autores, técnicos de diversos países. É o caso, por exemplo, de Barrage contre le Pacifique, coprodução franco-ítalo-americana, que foi rodada na Tailândia por um diretor francês, baseado numa adaptação americana feita por Irving Shaw do romance francês de Marguerite Duras, com vedetes italiana (Silvana Mangano) e americana (Anthony Perkins)."
Edgar Morin, Cultura de Massas no Século XX
p.45

360.

"A mentira que não é desmentida torna-se loucura. A realidade tanto quanto o objeto são dissolvidos na proclamação ideológica totalitária: tudo o que ela diz é o que é."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 105
p.72

359.

"― Decididamente, não se pode ser completamente feliz nesse mundo!"
Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo
p.176

358.

"Minha maior ambição é obedecer aos Dez Mandamentos."
Fats Domino, vocalista e pianista de Blues
p.28

357.

"Quando lançamos o programa para o povo comprar material de construção com desconto, um jornal importante publicou a manchete: 'Lula faveliza o Brasil'. Quer dizer, é uma concepção distorcida de quem não tem a menor noção do que significa o pobre ter acesso a comprar meterial de contrução e poder fazer sua casa, reformar, fazer a sua garagem, fazer o seu puxadinho"
Luís Inácio Lula, em entrevista à Pauí
edição de Janeiro/2009
p.20

356.

"Às vezes, a MPB me soa controlada demais. Falta a catarse do espiritual, aquela coisa de negro americano. A MPB não sua. Quando menino, eu não conseguia me relacionar. Meu nervoso não cabia na coolness da bossa nova."
Lulu Santos, em entrevista à revista Megazine do jornal O Globo.

355.

"Quando me toca essa questão, fico apavorado: Eu não tenho qualquer hobby. Não que eu seja um besta de trabalho que não sabe fazer consigo nada além de esforçar-se e fazer aquilo que deve fazer. Mas aquilo com o que me ocupo fora da minha profissão oficial é, para mim, sem exceção, tão sério que me sentiria chocado com a idéia de que se tratasse de hobbies, portanto ocupações nas quais me jogaria absurdamente só para matar o tempo, se minha experiência contra todo tipo de manifestações de barbárie - que se tomaram como que coisas naturais - não me tivesse endurecido. Compor música, escutar música, ler concentradamente, são momentos integrais da minha existência, a palavra hobby seria escárnio em relação a elas."
Theodor Adorno, A Indústria Cultural e Sociedade
p.105

354.

"'Saio pouquíssimo', disse. 'Esse ano, só fui às festas de aniversário do Pão de Açucar e da Andrade Gutierrez.' Perguntei se era amigo dos donos das empresas. 'Não, fui porque completavam 60 anos, o que no Brasil é importante'. E porque então não foi ao aniversário de 40 ano da Veja? 'Porque me dou ao respeito', respondeu. 'Aprendi que se alguém me xinga durante anos, não devo ir à sua casa.' (No site da revista, o presidente é chamado mais de 6.800 vezes de 'apedeuta', sinônimo de 'ignorante' e 'sem educação'.)"
Mario Sergio Conti, em entrevista pela Piauí com o presidente Luís Inácio Lula
edição Janeiro/2009 
p.20

353.

"O mal que se faz no mundo deve ser indenizado lenta e profundamente, para que a punição seja sentida em intensidade igual à dor que o crime provocou."
Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo
p. 105

352.

"Que os aristocratas e os ignorantes, curiosos de conhecer prazeres excepcionais, saibam, portanto, que não encontrarão no haxixe nada de miraculoso, absolutamente nada do natural excessivo. O cérebro e o organismo sobre os quais opera o haxixe oferecerão apenas seus fenômenos comuns, individuais, aumentados, é verdade, quanto ao número e à energia, mas sempre fiéis as suas origens. O homem não escapará à fatalidade de seu temperamento físico e moral: o haxixe será, para as impressões e os pensamentos familiares do homem, um espelho que aumenta, mas um simples espelho."
Charles Baudelaire, Paraísos Artificiais
p.23

351.

"O presidente não lê blogs nem sites. Mais: não lê nem jornais nem revistas. E não é por falta de tempo. Simplesmente não quer ler. Por quê? 'Porque eu tenho problema de azia', respondeu. Mesmo afirmando que o jornalismo lhe faz mal ao fígado, o presidente repetiu duas vezes que sua ascensão à presidência 'é produto direto da liberdade da imprensa'."
Mario Sergio Conti, em entrevista pela Piauí com o presidente Luís Inácio Lula
edição de Jan/2008
p.20

350.

“Antigamente os livros eram escritos por homens de letras e lidos pelo público. Hoje são escritos pelo público e lidos por ninguém.”
Oscar Wilde

enviada por Caio Figueiredo.

349.

"Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê
Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme"
Caetano Veloso, na música O Ciúme

348.

"O rei falou em assassinato? Palavra que o imaginava suficientemente filósofo para compreender que não há assassinatos em política. Em política, não há homens, há idéias; não há interêsses; não se mata ninguém, suprimem-se obstáculos."
Alexandre Dumas, O Conde de Monte Cristo
p.34

347.

"Muita gente ficou espantada com o fato da repercussão de mídia que teve a morte do papa. E a isso foi vinculado uma particularidade, uma talento pessoal de grande comunicador que era esse papa, ora, não se deve creditar isso ao talento de comunicador do papa que morreu, mas muito mais ao mundo dentro do qual ele morreu. Não é um carisma que determina a ampla cobertura, mas a ampla cobertura que determina um carisma."

Eugênio Bucci, fragmento do DVD Jornalismo Sitiado

346.

“Ao se referir aos bichos, os jogadores podem referir-se mais confortavelmente a si mesmo e a seus interesses e fantasias, revelando o mais íntimo de suas experiências e a forma pela qual as classificam e interpretam – sejam sonhos ou eventos que tenham chamado sua atenção”.

Roberto DaMatta, Águias, Burros e Borboletas

p.181

345.

"Não haverá um equívoco em tudo isso?
O que será em verdade transparência
Se a matéria que vê, é opacidade?
Nesta manhã sou e não sou minha paisagem
Terra e claridade se confundem
E o que me vê
Não sabe de si mesmo a sua imagem."
Hilda Hilst, trecho do poema Passeio em Exercícios Para Uma Trajetória Poética Do Ser

344.

Todos os dias agora acordo com alegria e pena

"Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações,
Não sei o que hei-de ser comigo.
Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo.
Quem ama é diferente de quem é.
É a mesma pessoa sem ninguém."
Fernando Pessoa, sob heterônimo de Alberto Caeiro

enviada por Tatyane Mendes

343.

"De que o mel é doce é coisa de que me nego a afirmar, mas que parece doce eu afirmo plenamente"
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.91

342.

"Mas o próprio sucesso de uma burocracia no seu projeto fundamental de industrialização contém necessariamente a perspectiva de seu fracasso histórico; ao acumular capital, ela acumula proletariado, e cria seu próprio desmentido, num país em que ele ainda não existia."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 113
p.80-81

341.

"Eu perco pra malandro, perco pra ladrão
Perco pra espertinhos e espertões
Perco na transação bancária, nos juros,
Na taxa diária
Ah, mas na sabedoria é que eu ganho de vocês
Essa ninguém me tira."
Raul Seixas, O Baú do Raul Revirado
P.191

340.

"O haxixe (ou erva, isto é, a erva por excelência, como se os árabes tivessem querido definir em uma palavra erva, fonte de todas as volúpias imateriais) leva diferentes nomes, segundo sua composição e o modo de preparção pelo qual passou no país onde foi recolhido: na Índia, bengie; na África, teriaki; na Argélia e na Arábia Feliz, madjound, etc. É importante colhê-lo em épocas do ano determinadas; é quando está em flor que possui sua maior energia;"
Charles Baudelaire, Paraísos Artificiais
p.18

339.

Esotérico

"Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu prá você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar (não adianta não)
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim"
Gilberto Gil

338.

"Por isso, o stalinismo voltará sua verdade na incoerência. Nesse momento, a ideologia já não é uma arma, mas um fim."
Guy Debord, em A Sociedade do espetáculo, tese 105
p.72

337.

"A questão do tempo livre: o que as pessoas fazem com ele, que chances eventualmente oferece o seu desenvolvimento, não pode ser formulada em generalidade abstrata. A expressão, de origem recente, aliás - antes se dizia ócio, e este era um privilégio de uma vida folgada e, portanto, algo qualitativamente distinto e muito mais grato, mesmo desde o ponto de vista do conteúdo -, aponta a uma diferença específica que o distingue do tempo não livre, aquele que é preenchido pelo trabalho e, poderíamos acrescentar, na verdade, determinado desde fora. O tempo livre é acorrentado ao seu oposto. Esta oposição, a relação em que ela se apresenta, imprime-lhe traços essenciais. Além do mais, muito mais fundamentalmente, o tempo livre dependerá da situação geral da sociedade."
Theodor Adorno, Indústria Cultural e Sociedade
p.103

336.

"Pilotos invisíveis dentro da tempestade popular, devemos dirigi-la, não por um poder ostensivo, mas pela ditadura coletiva de todos os aliados. Ditadura sem distintivo, sem título, sem direito oficial, e tanto mais forte quanto menos tiver as aparências de poder."
Mikhail Bakunin, líder anarquista russo, sobre como comandar a revolução operária.

335.

Divisa

"o barco basta
sem dádivas
sem dívidas
sem dúvidas"
Chacal, Belvedere
p.239

enviada por Rafael Costa

334.

"Pode-se dizer que a cultura de massa, em seu setor infantil, leva precocemente a criança ao alcance do setor adulto, enquanto em seu setor adulto ela se coloca ao alcance da criança. Esta cultura cria uma criança com caracteres pré-adultos ou um adulto acriançado? A resposta a essa pergunta não é necessariamente alternativa. Horkhimer vai mais longe, longe demais, porém indica uma tendência: 'O desenvolvimento deixou de existir. A criança é adulto desde que sabe andar e o adulto fica, em princípio, estacionário'."
Edgar Morin, Cultura de Massa no Século XX
p.41

333.

"...a burguesia é a única classe revolucionária que sempre venceu; ao mesmo tempo, é a única para quem o desenvolvimento da economia foi causa e consequência de seu domínio sobre a sociedade..."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 87
p.57


332.

"Será que conseguiria detectar algum movimento? Não tinha certeza. Tinha a impressão de estar distinguindo uma estranha sombra de asas batendo. Talvez fosse apenas o sangue pingando sobre os seus cílios. Enxugou os olhos. Cara, adoraria ter uma fazenda em algum lugar, criar ovelhas. Espiou novamente pela janela, tentando distinguir a silhueta, mas tinha a sensação, tão comum no universo naqueles dias, de que estava diante de uma ilusão de ótica e que os seus olhos estavam lhe pregando peças."
Douglas Adams, Praticamente Inofensiva
p.99

enviada por Clarice Cardoso.

331.

O Amor Venal

O não amar é duro;
Amar, duro também!
Porém mais duro é amar
E não gozar seu bem.
Há amor que esquece estirpe,
Avós, saber, virtudes,
Somente enxerga a prata
E muda as atitudes.
Maldito, o que primeiro
A prata amou demais!.
Através dela irmãos
Não existem, nem pais!
Batem-se homens com outros,
Matam-se, estertorantes...
Mas há pior: morrermos,
Por isso, nós, amantes!
Anacreonte, ANAKPEONTOS WDDI [Odes de Anacreonte], traduzido por Almeida Cousin
p.127 

330.

"O filme quis dizer: 'Eu sou o samba'
A voz do morro rasgou a tela do cinema 
E começaram a se configurar 
Visões das coisas grandes e pequenas 
Que nos formaram e estão a nos formar 
Todas e muitas: Deus e o Diabo 
Vidas Secas, Os Fuzis 
Os Cafajestes, O Padre e a Moça, A Grande Feira, 
O Desafio 
Outras conversas, outras conversas 
Sobre os jeitos do Brasil 
Outras conversas sobre os jeitos do Brasil "
Caetano Veloso, trecho da música Cinema Novo

329.

"No Oriente Médio se tem o triste espetáculo de uma nação sacrificando sua história para garantir sua geografia".
Luís Fernando Verissimo, em artigo publicado no jornal O Globo do dia 08/01/2009

328.

"Tem gente que passa a vida inteira travando a inútil luta com os galhos sem saber que é lá no tronco que está o coringa do baralho"
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.76

327.

“As paixões políticas turvam a cena em que ocorrem mudanças que beneficiam o andar de baixo. À esquerda e à direita há um certo desconforto para se reconhecer que o general Garrastazu Medici lançou a base do que é hoje a aposentadoria do trabalhador rural e que João Goulart defendeu e sancionou a lei que criou o 13º salário.”
Elio Gaspari, em artigo publicado no jornal O Globo do dia 07/01/2009

326.

Rosa de Hiroxima

"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada"

Vinicius de Moraes

325.

"Eu fiquei completamente perdido quando estava no colegial. Costumava dizer para minha tia: 'Você jogou minha poesia fora! Vai se arrepender disso quando eu for famoso!', eu nunca a perdoei por não me tratar como a porra do gênio que eu era, ou qualquer coisa assim, quando eu era criança."
John Lennon, As Melhores Entrevistas da Revista Rolling Stone

324.

"O senhor do feudo, como o servo, não possuia a terra, mas era, êle próprio, arrendatário do outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeão ou cidadão 'arrendava' sua terra do senhor do feudo que, por sua vez, 'arrendava' a terra de um conde, que já a 'arrendara' de um duque, que, por seu lado, a 'arrendava' do rei. E, às vêzes, ia ainda mais além, e um rei 'arrendava' a terra a um outro rei!"
Leo Huberman, História da Riqueza do Homem
p.18

323.

"O que obriga os produtores a participarem da construção do mundo é também o que os afasta dela. O que põe em contato os homens liberados de suas limitações locais e nacionais é também o que os separa. O que obriga ao aprofundamento do racional é também o que alimenta o irracional da exploração hierárquica e da repressão. O que constitui o poder abstrato da sociedade constitui sua não liberdade concreta."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 72
p.47

322.

"Os que sabem observar-se a si mesmos e guardam a lembrança de suas impressões, os que souberam, como Hoffman, construir seu barômetro espiritual, puderam por vezes notar, no observatório de seu pensamento, belas estações, dias felizes, minutos deliciosos. São dias em que o homem se levanta com um gênio jovial e vigoroso. Com suas pálpebras livres do sono que as selava, o mundo exterior se oferece a ele com um relevo bem marcado, uma nitidez de contornos, uma riqueza de cores admiráveis. O mundo moral abre suas vastas perspectivas, cheias de novas claridades. O homem agradecido por essa beatitude, infelizmente rara e passageira, sente-se ao mesmo tempo mais artista e mais justo, mais nobre, para dizer tudo em uma só palavra."
Charles Baudelaire, Paraísos Artificiais
p.11

321.

"Há uma estrela mais aberta
que a palavra papoula?

Há dois caninos mais agudos
que as sílabas de chacal?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.66

320.

"O que o espetáculo oferece como perpétuo é fundado na mudança, e deve mudar com sua base. O espetáculo é absolutamente dogmático e, ao mesmo tempo, não pode chegar a nenhum dogma sólido. Para ele, nada pára; este é seu estado natural e, no entanto, o mais contrário à sua propensão."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 71
p.47

319.

"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladratura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois de lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada."
Hilda Hilst, fragmento do poema Do Desejo

318.

"Se o sono é o ponto mais alto da distensão física, o tédio é o ponto mais alto da distensão psíquica."
Walter Benjamin

participação do blog Reflexões.

317.

"Cada nova mentira da publicidade é também a confissão da mentira anterior."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 70
p.47

316.

"É mineral o papel
onde escrever
o verso; o verso
que é possível não fazer.

São minerais
as flores e as plantas,
as frutas, os bichos
quando em estado de palavra.

É mineral
a linha do horizonte
nossos nomes, essas coisas
feitas de palavras.

É mineral, por fim, 
qualquer livro:
que é mineral a palavra
escrita, a fria natureza

da palavra escrita."
João Cabral de Melo Neto, do poema Psicologia da Composição
p.169

315.

"Este senhor visível da natureza visível (falo do homem) quis, portanto, criar o paraíso pelas drogas, pelas bebidas fermentadas, semelhante a um maníaco que substituiria os móveis sólidos e os jardins verdadeiros por cenários pintados sobre tela e emoldurados. É nesta depravação do sentido do infinito que jaz, na minha opinião, a razão de todos os excessos culposos, desde a embriaguez solitária e concentrada do literato que, obrigado a procurar no ópio o alívio de uma dor física, e tendo desta forma descoberto uma fonte de prazeres mórbidos, fez disto pouco a pouco sua única higiene e como que o sol de sua vida espiritual, até a embriaguez mais repugnante dos suburbanos que, com o cérebro carregado de fogo e glória, rolam ridiculamente nos lixos da rua" 
Charles Baudelaire, Paraísos Artificiais
p.14

314.

"Dêem-me um erro fecundo em qualquer ocasião, cheio de sementes, rebentando com suas próprias correções. Em contrapartida, podem guardar vossas verdades estéreis."
Vilfredo Pareto, citado por Stephen J. Gould em O Polegar do Panda
p.220

313.

"Mas a própria função das ideologias torna-se manifestamente cada vez mais abstrata. A suspeita dos antigos críticos culturais se confirmou: em um mundo onde a educação é um privilégio e o aprisionamento da consciência impede de toda maneira o avesso das massas à experiência autêntica das formações espirituais, já não importam tanto os conteúdos ideológicos específicos, mas o fato de que simplesmente haja algo preenchendo o vácuo da consciência expropriada e desviando a atenção do segredo conhecido por todos. No contexto de seu efeito social, é talvez menos importante saber quais as doutrinas ideológicas específicas que um filme sugere aos seus espectadores do que o fato de que estes, ao voltar para casa, estão mais interessados nos nomes dos atores e em seus casos amoros. Conceitos vulgares como "entretenimento" são muito mais adequados do que considerações pretensiosas sobre o fato de um escritor ser representante da pequena burguesia e outro, da alta burguesia."
Theodor Adorno, Indústria Cultural e Sociedade
p.94

312.

"Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.


Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.


Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira

Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa, poema chamado 'Tenho Tanto Sentimento', completo. 

311.

"A satisfação que a mercadoria abundante já não pode dar no uso começa a ser procurada no reconhecimento de seu valor como mercadoria: é o uso da mercadoria bastando a si mesmo; para o consumidor, é a efusão religiosa diante da liberdade soberana da mercadoria. Ondas de entusiasmo por determinado produto, apoiado e lançado por todos os meios de comunicação, propagam-se com grande rapidez... O único uso que se expressa aqui é o uso fundamental da submissão."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese67
p.44-45

310.

"O que importa em minha casa é a luz vermelha, meus tubos de ensaio, meus livros, meu violão e minha janela aberta pra ver onde jogo meus experimentos. Estudo esoterismo, suas práticas e métodos, a antipsicanálise, e faço minhas pesquisas... Para isso foi preciso um fácil diploma de professor de filosofia e várias lidas nas bíblias branca e negra, e até na "História da Civilização", de Edgar Burns. Eu fico em casa, meus experimentos vão para a rua."
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.54 

309.

"Argumentei que a gente precisa de ambição até para tomar algum caminho, e que a afirmação dele, de que a gente tinha de ser livre de ambição, não tinha sentido. Uma pessoa tem que ter ambição para poder aprender.
― O desejo de aprender não é ambição ― disse ele.
― É nosso destino como homens querer saber, mas procurar a erva-do-diabo é querer o poder, e isso é ambição, pois você não está querendo saber. Não deixe que a erva-do-diabo o cegue. Já o fisgou. Engoda os homens e lhes dá uma sensação de poder; ela os faz sentir que podem fazer coisas que nenhum homem comum pode fazer. Mas isso é a armadilha dela. E em seguida o caminho sem coração se volta contra os homens e os destrói. Não custa muito morrer, e procurar a morte é não procurar nada."
Carlos Castañeda, A erva-do-diabo
p.170

308.

"Logo, a satisfação, já problemática, que é considerada como pertencente ao consumo do conjunto é desde logo falsificada pelo fato de o consumidor real só poder tocar diretamente numa sequência de fragmentos dessa felicidade mercantil; a qualidade atribuída ao conjunto está forçosamente ausente desses fragmentos."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 65
p.44

307.

Antes Ébrio!

"Enquanto Baco me possui
Os meus desgostos domem, sós
Mais rico julgo-me que os Cresos
E desafio em canto e voz:
Deitado e de heras coroado,
Desprezo a todo o desprazer.
Quem lá quiser que se arme de ódio
Porque eu prefiro é bem beber!...
Traz-me uma taça, ó moço escravo
Que, certamente, há mais conforto
E é bem melhor se estar deitado
Por estar ébrio do que morto!"
Anacreonte, ANAKPEONTOS WDDI [Odes de Anacreonte], traduzido por Almeida Cousin.
p.75

306.

"A erva-do-diabo é como uma mulher, e, como mulher, lisonjeia os homens. Prepara armadilhas para eles a cada passo... Advirto-o. Não a tome com paixão; a erva-do-diabo é apenas um dos caminhos para os segredos de um homem de conhecimento. Há outros caminhos. Mas a armadilha dela é fazê-lo crer que o caminho dela é o único. Digo que é inútil desperdiçar a vida num caminho, especialmente se esse caminho não tiver coração."

Carlos Castañeda, A erva-do-diabo
p.169

305.

"A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. [...]

Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo.

Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar."

Chico Buarque, da crônica A Casa do Oscar

304.

"Eu espero que meu LP ensine alguma coisa pra moçada de hoje. Eu, que estudei história, filosofia, literatura, latim, tenho o que dizer. Não trago uma coisa imposta, um rótulo, como a tal de niu uêive. Não estou enchendo linguiça".
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.54

303.

"Você acha que há dois mundos para você... dois caminhos. Mas só existe um. O protetor mostrou-lhe isso com uma clareza inacreditável. O único mundo possível para você é o mundo dos homens, e esse mundo você não pode resolver largar. É um homem! O protetor lhe mostrou o mundo da felicidade, onde não há diferença entre as coisas porque lá não há ninguém que indague pela diferença. Mas esse não é o mundo dos homens. O protetor o sacudiu dali para fora e lhe mostrou como é que o homem pensa e luta. Este é o mundo do homem! E ser um homem é estar condenado a este mundo. Você tem a presunção de crer que vive em dois mundos, mas isso é apenas vaidade. Só existe um único mundo para nós. Somos homens, e temos de seguir satisfeitos o mundo dos homens..."
Carlos Castañeda, A erva-do-diabo
p.162