201.

"Vamos, meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo
Bem longe nos ocultar.
Como boêmios errantes
Que repetem delirantes:
P'ra ser feliz basta amar!"
Castro Alves, Poesias Completas; retirado do poema "Sonho da Boêmia".
p.215-216

200!


"É preciso explicar porque o mundo de hoje, que é horrível, é apenas um momento do longo desenvolvimento histórico e que a esperança sempre foi uma das forças dominantes das revoluções e insurreições. Eu ainda sinto a esperança como minha concepção de futuro"
Jean Paul Sartre, prefácio de 'Os Condenados da Terra', de Frantz Fanon

199.

"A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou, no modo de definir toda realização humana, uma evidente degradação do ser para o ter. A fase atual, em que vida social está totalmente tomada pelos resultados acumulados da economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo "ter" efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função última."
Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, tese 17
p.18

198.

As Três Irmãs do Poeta

"É noite! as sombras correm nebulosas.
Vão três pálidas virgens silenciosas
Através da procela irrequieta.
Vão três pálidas virgens... vão sombrias
Rindo colar num beijo as bocas frias...
Na fronte cismadora do - Poeta -

Saúde, irmão! Eu sou a Indiferença.
Sou eu quem te sepulta a idéia imensa,
Quem no teu nome a escuridão projeta...
Fui eu que te vesti no meu sudário...
Que vais fazer tão triste e solitário?...

- Eu lutarei! - responde-lhe o Poeta.

Saúde, meu irmão! Eu sou a Fome.
Sou quem o teu negro pão consome...
O teu mísero pão, mísero atleta!
Hoje, amanhã, depois... depois (qu'importa?)
Virei sempre sentar-me à tua porta...

- Eu sofrerei - responde-lhe o Poeta.

Saúde, meu irmão! Eu sou a Morte.
Suspende em meio ao hino augusto e forte.
Marquei-te a fronte, mísero profeta.
Volve ao nada! Não sentes neste enleio
Teu cântico gelar-se no meu seio?!

- Eu cantarei no céu! - diz-lhe o Poeta."
Castro Alves, Poesias Completas de Castro Alves
p.31-32

197.

"E eu não gostava de Bossa Nova. Tinha ódio de Bossa Nova. Não conseguia tocar, não sabia aquelas drogas daqueles acordes dissonantes, e era chato pra mim. Barquinho... Upa Neguinho...aquelas coisas assim...tão fora dele porque ele cantava baixinho, mas não gostava daquelas letras dele não. Eu não me ligava na cultura musical brasileira. Mesmo tocando, era como um feeling de blues."
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.21

196.

"O espetáculo domina os homens vivos quando a economia já os dominou totalmente. Ele nada mais é do que a economia desenvolvendo-se por si mesma. É o reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação infiel dos produtores."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 16
p.17

195.

"O menino atirava alto. "A poesia", dizia, "é um sacerdócio - seu Deus, o belo - seu tributário. o Poeta." O Poeta derramando sempre uma lágrima sobre as dores do mundo. "É que", acrescentava, "para chorar as dores pequenas, Deus criou a afeição, para chorar a humanidade - a poesia."
Manuel Bandeira, prefácio do livro "Poesias Completas de Castro Alves"; sobre o autor.
p.3

194.

"É preciso que as áreas dominadas, cuja heterogeneidade não espaca à simples observação, aceitem mensalmente o destino que é estabelecido pela "nova ordem", em que o neoliberalismo é a doutrina essencial, fora da qual não há salvação. É preciso, portanto, que as áreas dominadas não só aceitem a dominação como acreditem nela, na inevitabilidade dessa dominação, na sua eternidade."
Nelson Werneck Sodré, A Farsa do Neoliberalismo
p.4

193.

"Como indispensável adorno dos objetos produzidos agora, como demonstração geral da racionalidade do sistema, e como setor econômico avançado que molda diretamente uma multidão crescente de imagens-objetos, o espetáculo é a principal produção da sociedade atual."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 15
p.17

192.

Perguntas e Respostas

"Donde vens? - Venho de um seio!
Onde vais? - A um coração!
Quem te inspira? - A voz de um anjo!
Qual teu nome? - Afeição!..."

Castro Alves, Poesias Completas
p.233

191.

"Segundo a mentira triunfante, quando o muro de Berlim caiu, não caiu apenas um símbolo da estupidez humana mas todo um sistema de idéias. E o que venceu não foi o simples desejo de liberdade mas uma concepção econômica, que se sentiu autorizada a ocupar nossa mente com a mesma arrogância de qualquer vencedor em território conquistado. A ocupação, para não ser revertida, precisa neutralizar todas as formas possíveis de resistência, e começou pela linguagem. Subitamente, o que já era chamado de "os velhos chavões da esquerda" transformou-se em folclore e a análise marxista virou mera tese vencida. Além da semântica, o muro de Berlim também caiu em cima da moral e da avaliação de caráter. Tudo que se sabia sobre a rapacidade* do capital internacional, sobre a cumplicidade de organismos como o FMI com a perpetuação do domínio sobre países ricos, sobre todas as formas de colonialismo econômico que condenam os países pobres à subserviência, ficou sob os escombros metafóricos. A crítica sepultada - mesmo amavelmente, como no caso do Brasil - equivale ao sono da razão, de Goya, que gerava monstros. De uma hora para a outra o capitalismo ganhou, além de vastos novos mercados, um prontuário limpo, carta de recomendação (nada o desabona), porte de arma e habeas-corpus preventivo. Também é uma prerrogativa dos vencedores. "
Luis Fernando Verissimo, no Prefácio do livro A Farsa do Neoliberalismo, Nelson Werneck Sodré.

190.

"...No espetáculo, imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenrolar é tudo. O espetáculo não deseja chegar a nada que não ele mesmo."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 14
p.17

189.

"A natureza é um concerto cuja harmonia só Deus entende, porque só ele ouve a música que todos os peitos exalam."
Álvares de Azevedo, Macário
p.86

188.

"O caráter fundalmentalmente tautológico* do espetáculo decorre do simples fato de seus meios serem, ao mesmo tempo, seu fim. É o sol que nunca se põe no império da passividade moderna. Recobre toda a superfície do mundo e está indefinidamente impregnado de sua própria glória."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 13
p.17

187.

"Sou uma pessoa muito ocupada: tomo conta do mundo."
Clarice Lispector

186.

"O espetáculo se apresenta como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada além de "o que aparece é bom, o que é bom aparece". A atitude que a príncipio ele exige é a da aceitção passiva que, de fato, ele já obteve por seu modo de aparecer sem réplica, por seu monopólio de aparência."
Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo, tese 12
p.16

185.

"Desde dezoito anos que o tal patriotismo o absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do flolklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!"

Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma

p. 199

184.

"...estamos fazendo os ensaios do que será a humanidade. Nunca houve!"
Milton Santos


enviada por Thiago D'Angelo

183.

"Poeta! a voz do pegureiro* errante
Em ti vibrando... se alteou!... cresceu!
Tua alma é funda - como é fundo o pego!
Teu gênio é alto - como é alto o céu!"
Castro Alves, Poesias Completas de Castro Alves; retirado da poesia "Depois da Leitura de Um Poema".
p.231-232

182.

"Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu"
Clarice Lispector, A Descoberta do Mundo

181.

“Os governos, com seus inevitáveis processos de violência e hipocrisias, ficam alheados da simpatia dos que acreditam nele; e demais, esquecidos de sua vital impotência e inutilidade, levam a prometer o que não podem fazer, de forma a criar desesperados, que pedem sempre mudanças e mudanças.”

Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma

p. 138

180.

"e sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... ele considera que a ilusão é sagrada e que a verdade é profana. 
E mais: a seus olhos o sagrado aumenta a medida que a verdade decresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado."
Feuerbach, prefácio da segunda edição de Essência do Cristianismo

179.

Sobre as Mulheres

"Aos touros natureza
Deu cornos; aos cavalos
Deu cascos; ligeireza
De pés à lebre; ao leão
A caverna dos dentes;
Aos peixes, nataçao;
Às aves, o abrir asas;
Prudência, aos homens. (Não
Sobrou para as mulheres.)
Que dar-lhes, natureza?
Beleza - contra tudo -
Que enfrenta lança e escudo
E vence ferro e fogo,
Enquanto for beleza!"
AnacreonteANAKPEONTOS WDDI [Odes de Anacreonte], traduzido por Almeida Cousin
p.23

178.

“Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação de cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influi decerto para tal aspecto, mas influíram, porém, os azares das construções.

Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.”

Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma

p. 86

177.

"O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens."
Guy Debord, A sociedade do Espetáculo, tese 4
p.14

176.

"O amor traz muita felicidade, mais do que a ânsia por outra pessoa, que traz sofrimento."
Albert Einstein, no livro "Um Toque de Amor", de Kathy Wagoner

175.

"Quando Elvis veio com aquele estilo sexual, agressivo, ele quebrou aquele clima denso de machismo. Eu vi nele a liberdade incrível, de sexo, de se mover, sendo homem. E não importava, pô. Foi um negócio incrível, a porrada que ele me deu com aquela dança dele. Elvis era considerado um maníaco sexual, cabelo cheio de brilhantina. As músicas dele eram pornográficas, sabe. É o que se dizia na época. Me lembro do pai de um amigo meu do Consulado que dizia que Elvis era um communistplot, uma conspiração comunista."
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.18-19

174.

"No reino da realidade por mais bela, feliz e graciosa que ela possa ser, nós nos movemos sempre sob a influência da gravidade, força que precisamos superar incessantemente. Em compensação, no reino dos pensamentos, somos espíritos incorpóreos, sem gravidade e sem necessidade. Por isso não existe felicidade maior na Terra do que aquela que um espírito belo e produtivo encontra em si mesmo nos momentos felizes."
Schopenhauer, A Arte de Escrever

173.

"Eu que levaria bomba se me mandassem escrever sobre a diferença entre republicanos e democratas: esqueci."
Clarice Lispector, fragmento de carta enviada ao filho Paulinho. 

172.

"O mito romântico parece voltar com uma intensidade de hipérbole, de tempestades, ventos fortes, e naufrágios. De algum modo, este século, como o anterior, pensou uma coisa, desejou outra, e sentiu saudades de uma terceira. Sentiu arder as chamas de um mundo novo. Sentiu as chamas da democracia. Sentiu as chamas do individualismo. Mas lutou igualmente para construir o coletivo, para suprimir a liberdade, para manter o antigo regime."
Marco Lucchesi, introdução ao livro Macário, Álvares de Azevedo

171.

" O que me pegou foi tudo, não só a música. Foi todo o comportamento rock. Eu era o próprio rock, o teddy boy da esquina, eu e minha turma. Porque antes a garotada não era garotada, seguia o padrão do adulto, aquela imitação de homenzinho, sem identidade. Mas quando Bill Halley chegou com Rock Around the Clock, o filme No Balanço das Horas, eu me lembro, foi uma loucura pra mim. A gente quebrou o cinema todo, era uma coisa mais livre, era minha porta de saída, era minha vez de falar, de subir num banquinho e dizer eu estou aqui. Eu senti que ia ser uma revolução incrível. Na época eu pensava que os jovens iam conquistar o mundo..."
Raul Seixas, Por Ele Mesmo
p.14

170.

"Eis o que é a filosofia do homem! Há cinco mil anos que ele se abisma em si, e pergunta-se quem é, donde veio, onde vai, e o que tem mais juízo é aquele moribundo crê que ignora!"
Álvares de Azevedo, Macário
p.55-56

169.

"É a ordem ou a batalha
este desalento sucessivo?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.53

168.

"É uma cousa singular esta vida. Sabes que às vezes eu quereria ser uma daquelas estrelas para ver de camarote essa Comédia que se chama Universo? Essa Comédia onde tudo que há mais estúpido é o homem que se crê um espertalhão? Vês aquele boi que rumina ali deitado sonolento na relva? Talvez seja um filósofo profundo que se ri de nós. A filosofia humana é uma vaidade."
Álvares de Azevedo, Macário
p.55

167.

“A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se hão de calcar, na vida política , as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos.  Uma lei moral, inflexível, superior a todos os cálculos e vontade dos homens, pode regular a boa harmonia do corpo social, e portanto deve ser rigorosamente respeitada e cumprida”.

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil

166.

Ar

"A palavra
vem descendo pela boca
e some pelo corpo
que é cavalo, peixe, pássaro
arde e estala, temporal de sol.
A linguagem se arrasta atrás
fôlego de água.
O nome-que-não-se-diz, será o teu,
pai?"

Carlos Tamm, Osso e Vento
p. 58

165.

"Só acredito em amor que chora"
Nelson Rodrigues

164.

"É melhor atirar-se em luta, em busca de dias melhores, do que permanecer estático como os pobres de espírito, que não lutaram, mas também não venceram. Que não conheceram a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra, não agradecem à Deus por terem vivido, mas desculpam-se diante dele, por simplesmente, haverem passado pela vida."
Bob Marley

163.

"Porque detesto as cidades
que cheiram a mulher e urina?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.51

162.

"Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de dous sexos, a convulsão de dous peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas que se fundem... tenho amado muito e sempre!... Se chamas o amor o sentimento casto e puro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz; e ao seu coração, que formosura mais divina que a dela, - eu nunca amei."
Álvares de Azevedo, Macário
p.41-42

161.

"(...) Pertubado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada estava agora com uma tensãoagressiva e isso nunca lhe tinha acontecido. (...) Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho jamais sentido: ele...Ele se tornara homem."

Clarice Lispector, Felicidade Clandestina; retirado do conto ''O primeiro beijo''.

160.

"Fui carrasco e vítima
um som e outro me deram o ritmo
uma rima e a seguinte, a terceira.
Voz sobre dor, palavra e poesia."
Carlos Tamm, Osso e Vento [fragmento do poema Auto-Imolação de Odin]
p.54

159.

“Hoje, a simples obediência como princípio de disciplina parece uma formula caduca e impraticável e daí, sobretudo, a instabilidade constante de nossa vida social. Desaparecida a possibilidade desse freio, é em vão que temos procurado importar sistemas de outros povos modernos, ou criar por conta própria, um sucedâneo adequado, capaz de superar os efeitos do nosso natural inquieto e desordenado”.

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil

158.

"Minhas peças têm um moralismo agressivo. Nos meus textos, o desejo é triste, a volúpia é trágica e o crime é o próprio inferno. O espectador vai para casa apavorado com todos os seus pecados passados, presentes e futuros. Numa época em que a maioria se comporta sexualmente como vira-latas, eu transformo um simples beijo numa abjeção eterna."
Nelson Rodrigues

157.

“Fora bom, fora generoso, fora honesto, fora virtuoso - ele que fora tudo isso, ia para a cova sem o acompanhamento de um parente, de um amigo, de um camarada...”

 Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma

156.

“É freqüente, aliás, o fato de aqueles que em política tratam de fazer obra puramente realista ou apenas oportunista pretenderem agir, ao mesmo tempo, segundo critérios morais: alguns ficariam sinceramente escandalizados se lhes dissessem que uma ação moralmente recomendável pode ser praticamente ineficaz ou nociva. Não faltam exemplos de ditadores que realizam atos de autoridade perfeitamente arbitrários e julgam, sem embargo, fazer obra democrática”.

Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil

155.

"Apertar o laço
                           lentamente
nas nossas artérias
carne pulsando
                        sob nós

boca
boca orelha
orelha coxa greta
perna seio riso
teu riso liso
meu riso escuro

por entre isso tudo
nossa mente dura
nossa voz humana."

Carlos Tamm, Osso e Vento [fragmento do poema O que acender]
p.43-44

154.

“Foi muito importante ao longo da minha carreira ter conhecido todos esses caras que eu imitei. Porque eles diziam a cada frase: Não toque como eu. Toque como você mesmo!”

Eric Clapton

153.

"Muitos de nossos poetas românticos ainda fazem repercutir as cordas dos jovens de nosso tempo. Há neles um excesso, uma intensidade uma vocação como raramente encontramos além do romantismo, da relação vida, mundo e obra. Cada qual matriculado na escola de morrer moço, sentindo dentro de si o borbulhar do gênio, especialmente quem foi poeta, amou, sonhou na vida. Tudo isso faz repercutir as nossas cordas. O mito do herói em sua terrível solidão. O amor sublinhado aos confins da loucura. O mistério da noite, e seus abismos de fascínio e terror."
Marco Lucchesi, introdução ao livro Macário, Álvares de Azevedo

152.

"Tudo que não é literatura me aborrece."
Franz Kafka

151.

“A Pátria que quisera  ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do Dr. Campos, a do homem do Itamaraty”.

Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma

150.

"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."

Gabriel García Márquez


enviada por Karine Barcelos

149.

"Melhor te mostrar
os lanhos na boca
a pálpebra clara
e pela fenda do meu dente torto
assoprei luz, peixe, vendaval
e você ficará atônita ao ver
o que um sorriso estrábico comporta:
fome, alegria, sexo,
árvore, montanha, tempestade."

Carlos Tamm, Osso e Vento [fragmento do poema Quipos]
p.35

148.

“Como era possível dizer onde acabava a verdade e começava a mentira? Podia ser verdade que o ser humano comum agora vivesse melhor do que antes da Revolução. A única prova em contrário era o protesto mudo dos ossos, o sentimento instintivo de que as condições em que vivia eram intoleráveis e que deviam ter sido diferentes”.
George Orwell, 1984
p.75

147.

"Onde está o menino que eu fui?
Está dentro de mim ou se foi?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.64

146.

"Constitui-se assim, um novo componente na disputa entre as potências - detentoras da tecnologia - pelo controle dos estoques de natureza localizados, sobretudo, nos países periféricos e espaços não regulamentados juridicamente como os fundos oceânicos. Enfim, politiza-se a questão ambiental."
Maria Fernanda Quintela, Dimensões Humanas da Biodiversidade
p.356

145.

"As palavras têm calo
por cima da dor
o silêncio tem a cor
do ventre rasgado
de um cavalo"
Carlos Tamm, poema 'Carne viva', Osso e Vento
p.18

144.

"Sofre mais quem espera sempre
ou quem nunca esperou ninguém?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.62

143.

"o conhecimento (...) só vale se estiver destinado a tornar-se um bem comum a todos."
A.Gorz, 1974
p.99


142.

"As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco."
George Orwell, Revolução dos Bichos 
p.112

141.

Entre as Horas
Um sino badala na noite molhada
os insones ruminam
a incerteza do dia.
Seus passos ressoam
catástrofe que o mármore
levanta em luz fria.
Abrem tomos ante os olhos aflitos
e roém o pão das horas sem dentes
eles não pára fora
desferem arrancam seu vôo de dentro.

Corpo de sombras encobre
abaixo das patas do breu
instantes contados do real
até sua palidez
cair sob o punho do sol
quando arrastam a cauda réptil
a um leito de mudez.

Um sino badala e enche o ar de gemidos
que os pássaros recolhem
e fiam trinos.
Sob a lâmina vertical do meio-dia
a terra nova rala
o fumo e o limo da madrugada
abre o poroso dos ossos
o que teme o pacto
entre mundo e criatura.
Um fungo brota
na escuridão do sol a pino.
Carlos Tamm, Osso e Vento
p.28-29

140.

"Dentro desta concepção, o saber reconhecido - a ciência - é considerado um privilégio que diz respeito a uma "uma minoria" que pretende "continuar a sê-lo, na crença de que lhes são intrísecos o poder e a distinção"

A. Gorz, 1974

p.98

139.

"Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial."
Clarice Lispector

138.

As formas do mundo retornam
um fio que verte do caos
e desenha o meu enredo.
Carlos Tamm, Osso e Vento
p.24

137.

" Aos olhos do animal laborans a natureza é a grande provedora de todas as 'boas coisas', que pertencem igualmente a todos os seus filhos, que '(as) tomam de (suas) mãos' e se 'misturam com' elas no labor e no consumo. Essa mesma natureza, aos olhos do homo faber, construtor do mundo, 'fornece apenas os materiais que, em si, são destituídos de valor', pois todo o seu valor reside no trabalho que é realizado sobre eles."
Hannah Arendt, 2001
p.97

136.

"Julgava poder afirmar que os animais inferiores na Granja dos Bichos trabalhavam mais e recebiam menos comida do que quaisquer outros animais do condado."
George Orwell, A Revolução dos Bichos
p.109

135.

"Só os profetas enxergam o óbvio"
Nelson Rodrigues

134.

"A dimensão imaterial dos produtos tem mais importância que a realidade material; (...) A maior parte dos lucros se dá graças à dimensão imaterial das mercadorias. Sua materialização se torna secundária sob o ponto de vista econômico. As empresas de produção material são relegadas à condição de vassalos das firmas cuja produção e o capital são essencialmente imateriais."

A. Gorz, 2003

p.96

133.

"Não vês que a macieira floresce
para morrer na maçã?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.39

132.

"toda nossa cultura (incluindo o nosso modelo de consumo e o nosso comportamento) está marcado pelo postulado de que cada um deve, de certo modo, valer mais que os outros e de que, por conseguinte, o que é bom para todos não é digno de ninguém."
A. Gorz, 1974
p.99

131.

"O conhecimento [...] não implica necessariamente inteligência. Ele é bem mais pobre que esta última. Ele ignora a importância, essencial do ponto de vista político, da questão que uma sociedade precisa se colocar: o que resulta e o que não resulta do conhecimento? o que é conhecer o que desejamos conhecer?
A. Gorz, 2003
p.97

130.

"Todos os bichos são iguais, mas
alguns bichos são mais iguais que outros"
George Orwell, A Revolução dos Bichos
p.106

129.

"toda nossa economia já se tornou uma economia de disperdício, no qual todas as coisas devem ser devoradas e abandonadas quase tão rapidamente quanto surgem no mundo."

Hannah Arendt, 2001

p.97

128.

"Vês na caveira tua estirpe*
condenada a virar osso?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.38

127.

"Na modernidade, o conhecimento adquire cada vez mais a característica de mercadoria, provocando com isso a alimentação de um ciclo de multiplicação de novos conhecimentos, ou seja, novos produtos."
Doris Sayago, Dimensões Humanas da Biodiversidade
p.95

126.

"Passa-se do "um pouco de tudo" ao "tudo de um pouco", seguindo uma lógica em que o jargão empregado é cada vez mais hermético e ininteligível para não iniciados. Com isso, o diálogo entre diferentes campos do conhecimento vai ficando dificultado."

Doris Sayago, Dimensões Humanas da Biodiversidade

p.93

125.

"Não será nossa vida um túnel
entre duas vagas claridades?

Ou será uma claridade
entre dois triângulos escuros?

Ou não será a vida um peixe
treinado para ser pássaro?

A morte virá de não ser
ou de substâncias perigosas?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.35

124.

“Essa vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma seqüência e ordem – e assim também essa aranha e esse luar entre as árvores, e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do existir será sempre virada novamente – e você com ela, partícula de poeira!”

 Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência


enviada por Karine Barcelos

123.

“Nunca pensei em atingir uma meta, um objetivo. Eu queria era fazer show. Só isso.”

Cássia Eller

122.

“Vida e morte foram minhas, e eu fui monstruosa, minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai.”
Clarice Lispector, A paixão segundo G.H.


enviada por Karine Barcelos

121.

"Meus amigos, por que é que tão raras vezes se vê a torrente do gênio agitar-se em grandes ondas, avançar rugindo e perturbar as almas maravilhadas? É porque, caros amigos, os homens sensatos habitam nas duas margens do rio, temendo a devastação das suas casinhas, do canteiro das tulipas, das hortas, sabem evitar a tempo, por meio de diques e sangradouros, o perigo que os ameaça."

Johann Wolfgang von Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther

p. 20

120.

"Porque não amanhece na Bolívia
desde a noite de Guevara?"
Pablo Neruda, Livro das Perguntas
p.34

119.

“Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por que dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma.”
Clarice Lispector, Um sopro de vida

enviada por Karine Barcelos

118.

"Acontece com a distância o mesmo que acontece com o futuro: um todo imenso, e como que envolvido por uma neblina, estende-se diante da nossa alma; nosso coração ali mergulha e se perde, da mesma forma que nossos olhos, e ardentemente aspiramos a nos abandonar por completo, deixando-nos impregnar de um sentimento único, sublime, delicioso... No entanto, pobres de nós, quando lá chegamos e vemos que nada mudou: encontramo-nos tão pobres, tão limitados como antes, e nossa alma suspira pela felicidade que lhe fugiu."

Johann Wolfgang von Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther

p. 32

117.

"O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem."
William Shakespeare, Romeu e Julieta


enviada por Zaira Costa 

116.

"O certo é que o conhecimento europeu sempre fez do "outro" um ser distante, folclórico, quando não apenas um resignado, subordinado, subserviente. São ingredientes que tornam tais sociedades presas fáceis de capturar. Tal modelo descarta a possibilidade de que cada povo possua um sistema particular de organização econômica, social e política, sem que por isso sejam inferiores"

Doris Sayago, Dimensões Humanas da Biodiversidade

p.92

115.

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mario Quintana, Poeminho do Contra

114.

Chicago

"consegui," ela disse, "apareci."
ela estava com botas novas, calças
e um suéter branco. "agora eu sei
o que eu quero." ela era de Chigago e
havia se mudado para o distrito de Fairfax, L.A.

"você me prometeu champanhe,"
ela disse.
"eu estava bêbado quando liguei. qual uma
cerveja?"
"não, me passa seu baseado."
ela tragou e soltou:
"não é lá grande coisa".
e me devolveu.

"há uma diferença", eu disse, "entre
fazer coisas e simplesmente ficar duro"

"gosta das minhas botas?"
"sim, bem legais."
"escuta, tenho que ir. posso usar
o banheiro?"
"claro."

quando ela voltou tinha a boca muito
pintada de batom. eu não via uma assim
desde que era garoto.
beijei-a a caminho da porta
sentindo o batom grudar em meus
lábios.

"tchau" ela disse.
"tchau" eu disse.

caminhou pela passagem até o carro.
eu fechei a porta.

ela sabia o que queria e não era
eu.
conheço mais mulheres desse tipo do
que qualquer outro."

Charles Bukowski, O Amor é Cão dos Diabos
p.70

113.

“Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar.”

Chico Science, vocalista da Nação Zumbi

112.

“Os Titãs receberam o Troféu Imprensa tocando “Bichos Escrotos” no Silvio Santos. Tem coisa mais genial do que isso?”
Marcelo Fromer, ex guitarrista dos Titãs