"―Voei de verdade, Dom Juan?Carlos Castañeda, A erva-do-diabo
― Foi o que me disse. Não voou?
― Sei, Dom Juan. Quero dizer, meu corpo voou? Levantei vôo como um passarinho?
― ...O que quer saber não faz sentido. Os pássaros voam como pássaros e um homem que tomou a erva-do-diabo voa como tal.
― Assim como os pássaros?
― Não, voa como um homem que tomou a erva.
― Então, realmente não voei, Dom Juan. Voei em minha imaginação, só em minha mente. Onde estava meu corpo?
― Nas moitas ― respondeu ele, mordaz, mas logo caiu na gargalhada outra vez. ― O problema é que você só entende as coisas de um jeito. Não acha que um homem voa.
― Sabe, Dom Juan, você e eu estamos orientados de maneira diferente...
― Lá vem você outra vez com suas perguntas de 'o que aconteceria se'... Não adianta falar assim...
― Mas o que quero dizer, Dom Juan, é que, se você e eu olharmos para um pássaro e o virmos voando, concordamos que está voando. Mas se dois de meus amigos me tivessem visto voando como voei ontem, concordariam que eu estava voando?
― Bom, podiam ter concordado. Você concorda que os pássaros voam porque já os viu voando. Voar é coisa comum, para os pássaros. Mas não vai concordar com outras coisas que os pássaros fazem, pois nunca viu pássaros fazendo tais coisas. Se seus amigos soubessem a respeito de os homens voarem com a erva-do-diabo, então eles haviam de concordar."
p.137-138
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