"Um velho, quando está dançando,Só tem de velhos os cabelos,Pois que, na mente, um jovem é."
Anacreonte, ANAKPEONTOS WDDI [Odes de Anacreonte], fragmento do poema 'O Velho que Dança', traduzido por Almeida Cousin
p.129
"Um velho, quando está dançando,Só tem de velhos os cabelos,Pois que, na mente, um jovem é."
O Amor VenalO não amar é duro;Amar, duro também!Porém mais duro é amarE não gozar seu bem.Há amor que esquece estirpe,Avós, saber, virtudes,Somente enxerga a prataE muda as atitudes.Maldito, o que primeiroA prata amou demais!.Através dela irmãosNão existem, nem pais!Batem-se homens com outros,Matam-se, estertorantes...Mas há pior: morrermos,Por isso, nós, amantes!
Antes Ébrio!"Enquanto Baco me possuiOs meus desgostos domem, sósMais rico julgo-me que os CresosE desafio em canto e voz:Deitado e de heras coroado,Desprezo a todo o desprazer.Quem lá quiser que se arme de ódioPorque eu prefiro é bem beber!...Traz-me uma taça, ó moço escravoQue, certamente, há mais confortoE é bem melhor se estar deitadoPor estar ébrio do que morto!"
Do Amor às Riquezas"Se o ouro e riqueza, por um dia,Pudesse a vida prolongar,Por certo que o ouro eu cavariaPara que, vindo, a Morte friaTomasse a oferta em meu lugar.Mas, se comprar, mesmo um momentoDe vida nega-se aos mortais,Por que, bradando em vão lamento,Soltar, precoces, os meus ais?!Morte e marcada por destino,Que ajuda ouro em casos tais?Eu quero é, pois, beber somenteE, ebrifestivo, alegrementeEntre os amigos me encontrarE, enfim, num leito, molementeUm culto a Vênus* tributar."
Febre de Amor"Dai-me, pois, dai-me, ó mulheres,Vinho que eu beba a meu contento!Porque já estou preso de ardoresE ardo em febre e me lamento!Dai-me flores, pois que as floresDa coroa em que me cubro,Minha fronte, em seus ardoresJá desseca!...Ardo intranquilo.Contra a chama dos amoresComo, ao coração, cobri-lo? !"
"...Eros se abateEm mim, como uma flecha,No coração e almaAs forças me abandonam.Perdi da luta a palmaQue hei de fazer, por fim?Que vale escudo agora,Quando o combate é em mim? !"
Esforço de Amar"Com um ramo de jacintoEros de pés bonitosBatendo-me, malvado,Mandou-me que o seguisse.Corro e, sem ar, cansado,Passo veredas, fragas,Bordos de ribanceira.Brota-me o suor em bagas,Arquejo de canseira.Eros o esforço vêE, de asas a vibrar:- Fraco! - me diz - pois queNem és capaz de amar!
Sobre as Mulheres"Aos touros naturezaDeu cornos; aos cavalosDeu cascos; ligeirezaDe pés à lebre; ao leãoA caverna dos dentes;Aos peixes, nataçao;Às aves, o abrir asas;Prudência, aos homens. (NãoSobrou para as mulheres.)Que dar-lhes, natureza?Beleza - contra tudo -Que enfrenta lança e escudoE vence ferro e fogo,Enquanto for beleza!"