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458.

"A cultura popular, lida em seu caráter estrutural, se transformaria na potência que permitiria a esses artistas ao mesmo tempo revolucionar as formas de enunciação e os enunciados correspondentes a suas respectivas práticas, e fazê-lo de modo que o processo resultante não carecesse de atrativo para o grande público, convocado cada vez mais seu caráter participativo."
Carlos Basualdo, Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira
p.14

451.

"'Por que não' é uma pergunta: por que não usar guitarras elétricas, o cabelo comprido, um suéter laranja de gola rulê em vez de terno escuro? Mas também, por que não continuar a 'linha evolutiva' da música popular brasileira, o trabalho extraordinário de gente como Tom Jobim e João Gilberto, por meio de um diálogo entre o rock e a música erudita, entre Beatles e Webern? E, mais ainda, por que não permanente? Não como uma busca interminável das origens - como quereria o modelo herdado da Europa -, mas sim como uma aposta, permanentemente renovada, na incorporação e elaboração seletiva de estímulos culturais, seja qual for sua procedência. Por que restringir, aprioristicamente, o rol de expreimentos possíveis a serem realizados a partir de uma forma artística determinada?

Mas o modo como a pergunta aparece formulada a torna menos uma interrogação do que uma afirmação escondida. Não se pergunta então, mas se afirma. E aquilo que se afirma é uma negação mantida em suspenso. O dispositivo semântico é complexo: a frase contém uma pergunta que não se expressa como tal, uma afirmação suspensa pelo tom interrogativo, e uma negação contradita pelo caráter afirmativo e inquisitor da proposição. Interessa, sobretudo, o fato de que não se trata de pôr em cena uma pura negatividade, mas uma afirmação dogmática."
Carlos Basualdo, Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira
p.15

450.

"O rosto de Caetano, cantando no festival da TV Record, é menos o rosto de um indivíduo específico do que a expressão nascente de uma época. Vê-lo é recordar os Beatles, o Maio Francês ainda por vir, as lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos, as minissaisas, Andy Warhol, a Primavera de Praga, as manifestações estudantis contra a ditadura no Brasil e na Argentina, a resistência armada, a repressão, a tortura, o terrorismo de Estado. Tudo está ali, potencialmente, contido nesses gestos. 'Por que não' sintetiza a tentativa de um grupo de artistas, escritores e cineastas de situar a cultura brasileira em um contexto mundial, com relação às mudanças revolucionárias de fim dos anos 60. É a tentativa de buscar o lugar do Brasil nesse mundo, de devolver o mundo ao Brasil e o Brasil ao mundo..."
Carlos Basualdo, Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira
p.14  

448.

"Para Caetano e Gil, assim como para Oiticica e José Celso, a cultura popular não se resume a uma coleção de modismos ou imagens preestabelecidas, mas consiste antes de tudo em uma determinada mecânica de apreender, interpretar e reformular a informação circulante. Essa potência inerente a expressões populares como o carnval, por exemplo, a música nordestina ou a arte de rua, seria o meio que, idealmente, permitiria a esses artistas, ao mesmo tempo, revolucionar as formas culturais com as quais trabalhavam e fazê-lo de tal maneira que o resultado não fosse alienante ou alienado com relação ao grande público."
Carlos Basualdo, Tropicália, Uma Revolução na Cultura Brasileira
p.13