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166.

Ar

"A palavra
vem descendo pela boca
e some pelo corpo
que é cavalo, peixe, pássaro
arde e estala, temporal de sol.
A linguagem se arrasta atrás
fôlego de água.
O nome-que-não-se-diz, será o teu,
pai?"

Carlos Tamm, Osso e Vento
p. 58

160.

"Fui carrasco e vítima
um som e outro me deram o ritmo
uma rima e a seguinte, a terceira.
Voz sobre dor, palavra e poesia."
Carlos Tamm, Osso e Vento [fragmento do poema Auto-Imolação de Odin]
p.54

155.

"Apertar o laço
                           lentamente
nas nossas artérias
carne pulsando
                        sob nós

boca
boca orelha
orelha coxa greta
perna seio riso
teu riso liso
meu riso escuro

por entre isso tudo
nossa mente dura
nossa voz humana."

Carlos Tamm, Osso e Vento [fragmento do poema O que acender]
p.43-44

149.

"Melhor te mostrar
os lanhos na boca
a pálpebra clara
e pela fenda do meu dente torto
assoprei luz, peixe, vendaval
e você ficará atônita ao ver
o que um sorriso estrábico comporta:
fome, alegria, sexo,
árvore, montanha, tempestade."

Carlos Tamm, Osso e Vento [fragmento do poema Quipos]
p.35

145.

"As palavras têm calo
por cima da dor
o silêncio tem a cor
do ventre rasgado
de um cavalo"
Carlos Tamm, poema 'Carne viva', Osso e Vento
p.18

141.

Entre as Horas
Um sino badala na noite molhada
os insones ruminam
a incerteza do dia.
Seus passos ressoam
catástrofe que o mármore
levanta em luz fria.
Abrem tomos ante os olhos aflitos
e roém o pão das horas sem dentes
eles não pára fora
desferem arrancam seu vôo de dentro.

Corpo de sombras encobre
abaixo das patas do breu
instantes contados do real
até sua palidez
cair sob o punho do sol
quando arrastam a cauda réptil
a um leito de mudez.

Um sino badala e enche o ar de gemidos
que os pássaros recolhem
e fiam trinos.
Sob a lâmina vertical do meio-dia
a terra nova rala
o fumo e o limo da madrugada
abre o poroso dos ossos
o que teme o pacto
entre mundo e criatura.
Um fungo brota
na escuridão do sol a pino.
Carlos Tamm, Osso e Vento
p.28-29

138.

As formas do mundo retornam
um fio que verte do caos
e desenha o meu enredo.
Carlos Tamm, Osso e Vento
p.24